sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

PESSOA em Pessoa!...


« Mando-lhe alguns versos meus... Leia-os e guarde-os para si... A seu Pai, se quiser, pode lê-los, mas não espalhe, porque são inéditos. Amo especialmente a última poesia, a da Ceifeira, onde consegui dar a nota paúlica em linguagem simples. Amo-me por ter escrito

Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência
E a consciência disso!... »

FERNANDO PESSOA – Excerto de Carta, datada de 19 de Janeiro de 1915, escrita a Armando Cortes-Rodrigues.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O Guardador de Rebanhos - A Origem...

« Ano e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro – de inventar um poema bucólico, de espécie complicada, e apresentar-lho, já não me lembro como, em qualquer espécie de realidade. Levei uns dias elaborar o poema mas não consegui. Num dia em que finalmente desistira – foi em 8 de Março de 1914 – acerquei-me de uma cómoda alta, e tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja espécie não conseguirei definir. Foi um dia triunfal na minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com o título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive. E tanto assim que, escritos que foram esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a fio, também, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa. Imediatamente e totalmente... Foi o regresso de Fernando Pessoa-Alberto Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou melhor, foi a reacção de Fernando Pessoa contra a sua inexistência como Alberto Caeiro. »

FERNANDO PESSOA – Excerto de carta, datada de 13 de Janeiro de 1935, a Adolfo Casais Monteiro.