sexta-feira, 28 de maio de 2010

Por Quinze Segundos






Acordei, quando o sol começava a ficar vermelho, e essa foi uma ocasião única na minha vida, o momento mais estranho de todos, em que deixei de saber quem era – estava longe de casa, obcecado e cansado da viagem, num quarto de hotel barato que não conhecia, a ouvir o silvo do vapor lá fora e os estalidos da madeira velha do hotel e passos no andar de cima e todos aqueles barulhos tristes, e olhei para o tecto alto com fendas e, durante cerca de quinze estranhos segundos, perdi realmente a noção de quem era. Não estava assustado; era simplesmente outra pessoa, um desconhecido qualquer, e toda a minha vida era uma assombração, era a vida de um fantasma. Encontrava-me no meio da América, na linha divisória entre o Este da minha juventude e o Oeste do meu futuro, e talvez fosse por esse motivo que tal me aconteceu ali e nesse momento, naquela estranha tarde vermelha.

k e r o u a c