domingo, 10 de novembro de 2013

Juntos olhávamos o pôr-do-sol







Recordava tristemente

O tempo, em que juntos

Olhávamos o pôr-do-sol

Eles eram pai e filho

Corpo e sangue

Era húmido

Acabado de pintar

Pela nossa imaginação





Ser ardente e feroz

Queimava as sagas

Da nossa língua

Levava-lhe todos os sonhos

Distantes e perdidos





Eras seu guia

Levavas-nos embriagados

Pela carnificina húmida do sol

Sua carnificina era doce e distante

Via-se ao longe, quão bela era a luta

Distante…



Hoje vejo uma mancha gigante

Uma LUX, negra e fria

Aberta no céu

Ela abre a sua carne

Toca-me com seus

Dedos cegos e doentios

Dedos que abrem melancolicamente

A tua sepultura, abraçam-na

Como um avô cego, que é o sol



Hoje descansas corpo solitário

A tua língua nunca mais irá verter

Qualquer palavra…



Olhava-mos juntos o pôr-do-sol

Tu com teus olhos livres tocas o infinito

Eles estremeciam com o latim

Das tuas palavras …



O teu latim que

Andou por mares distantes,

Que combateu o demónio

Em busca do Santo Graal!



Esse Santo cobria o céu

Deixas-te o folclore dos pássaros

Se despedirem de ti,

Eu que ingenuamente

Morrerei a ouvir o seu canto

Morrerei como a tua língua

Mas ela flutuará pelo espaço

O que foi, e o que é…



Juntos olhávamos o pôr-do-sol

O pôr-do-sol

Numa das suas inúmeras mortes;

Sorria!


PoReScRiTo
(in monteperplexo.blogspot.pt) (audax spiritum)