quarta-feira, 19 de março de 2014

PaTer







Sou eu a paisagem do teu rosto
O reflexo do teu olhar brando
As minhas sombras negras da tarde
Diluem-se na tua presença,
És tu, toda a evidência da minha presença,
Suspensoprevaricando coisas banais
Dando alguma coerência à minha vivência abstracta

És tu o barqueiro surdo a ouvir o rio
Eu apenas preencho as suas margens
Levas-me pelas águas solitárias que a nada me conduzem,
São todas elas pegadas da tua vida anterior
Estás ali deitado com o teu olhar vago; o que foste, o que és, o que serás

Sentado à beira
Cheirava o começo da maresia
O teu rosto desenhava-se
As tuas feições apagavam-se na areia molhada
Um dia serás apenas eu,
E a tua presença será uma ilusão,
Serei eu o prolongamento dos teus ramos infinitos
Com eles abraças-me na eternidade
Um beijo meigo florescia no meu rosto
Uma brisa fresca pairava no ar
A mesma brisa que um dia te vira nascer


Continuarás a ser meu Pai,
Passarás o rio a correr dando-me expressões sinceras
Continuarás para sempre vivo no espaço
Em todas as coisas que me façam pensar,
Mais que a morte e que a vida
Mais que esses paradoxos de vivência
Estás tu meu Pai,
Frágil, para seres real

Presente, para que possa sentir a tua ausência


C de C per il padre